sábado, 10 de março de 2012

Os indígenas


"Esta situação evidencia uma extrema dificuldade do PSD-Madeira em lidar com uma realidade inelutável: os jornalistas, e em particular os visados, não estão ao seu serviço nem são instrumentos da propaganda do Governo Regional ou de silenciamento da grave situação na região"
Sindicato dos Jornalistas, em comunicado

Não aconteceu no Burkina Faso, aconteceu na Madeira. Na edição de Março, o jornal oficial do PSD publicou esta fotografia de 5 jornalistas e, basicamente, instigou ao ódio e a uma variante perturbadora de justiça popular. No entender do Governo Regional, com uma objectividade que faria inveja a qualquer ditador africano, notícia e propaganda são uma e a mesma coisa. Se, por acaso, há aí uns quantos "jornalistas" armados em heróis, então essa escumalha merece é ser esfolada na praça pública. Afinal de contas, tudo pelo PSD, nada contra o PSD.

A culpa é dos madeirenses, que o elegeram? Claro que sim. Mas num país digno desse nome, num PSD, que é Governo, com um pingo de vergonha na cara, uma aberração como esta teria sempre consequências. Para a República, no entanto, há pragmatismo: as eleições já passaram, a poeira assentou e o buraco é história. No entretanto, caçar jornalistas na Madeira é banal. No fundo, é só mais uma diabrura do tio Jardim que, vendo assim de fora, até tem piada. Para a mesma República que tem ética em mês de eleições regionais (e o espectro vai do presidente do PSD ao cidadão comum), a Madeira só volta a ser notícia daqui a 4 anos. Até lá, não há nada que valha a pena discutir, nada que pese na consciência. É tudo normal, como se nunca tivesse acontecido. Os indígenas que fiquem à sua própria sorte.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Ferramentas melhores fazem guerras melhores


Há três semanas voltou a ser notícia por ter sido levado à força da Assembleia Regional. O modo não mudou, de facto. José Manuel Coelho sabe o que tem de fazer para ser notícia. Algumas vezes ultrapassou limites, como no caso da bandeira nazi, noutras soube capitalizar magistralmente a sua figura, como nos 190 mil votos presidenciais. As pessoas começaram por estranhá-lo, numa cena política madeirense sufocada, conformada, e confortável com o politicamente correcto, mas depois chegaram a entranhá-lo. Coelho, no fundo, era o nosso alter ego, o tipo burlesco sem nada a perder, que falava o que tantos tinham de pensar calados. Elogiei-o muitas vezes. De acordo que assim não se fazem governos, e que se fossem todos assim, não havia política. Mas não se fazem juízos sem contexto, e no contexto da Madeira, na maior parte das vezes é preciso ser o louco para dizer o que toda a gente pensa.

O que esperava de Coelho era que, depois de tudo o que conseguiu, desse o salto em frente, porque ninguém pode viver assim para sempre. O país conheceu-o nas Presidenciais, e nas Regionais ganhou ele sozinho três lugares na Assembleia. Coelho foi batendo todos os seus desafios... mas tropeçou no último: reinventar-se para poder fazer realmente a diferença. A diferença a sério. Coelho quis lutar a guerra, mas nunca pensou em ganhá-la, e o resultado foi mergulhar em absurdos labirintos partidários, recusar fazer a ponte com a maior Oposição de sempre e, com mais dois deputados a seu lado, decidir que o melhor era voltar a incendiar a Assembleia ao ponto de ser posto na rua.

Em questão, no último protesto, estava a ausência crónica e histórica do Presidente do Governo às sessões da Assembleia Regional: a legitimidade continua a não ser questionável... o problema é que, para a forma, já não há espaço. Hoje, o efeito mediático de ter Coelho varrido à força outra vez foi as pessoas olharem para o lado, já não quererem saber. É que Coelho já não podia ser aquilo; se é, então a sua capacidade para passar a mensagem perdeu-se algures no caminho, e as suas causas cairão com ele. Essa era a única derrota a que não se podia permitir.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Agradecida, Sra. Merkel


"Quem já esteve na Madeira, pôde ver para onde foram os fundos estruturais europeus. Há muitos túneis e auto-estradas bonitas, mas isso não contribuiu para que haja mais competitividade." (MERKEL, Angela, 2012)



Não estava previsto que este fosse o primeiro texto deste blogue nem será certamente a melhor maneira de dar as boas-vindas.
Deixemos, para já, a típica simpatia portuguesa de parte e sejamos rudes, como os alemães. A Sra. Merkel teve o poder de me irritar solenemente hoje, com a repetição exaustiva das suas declarações em todos os noticiários, jornais, sites, etc. A Sra. Merkel e a sua mania de manda em tudo, sabe tudo e tem razão em tudo.

Até pode ter razão em alguns pontos:
  • Houve exagero os investimentos em túneis e vias-rápidas (sim, porque não há auto-estradas na Madeira!)? Sim! Era necessário construir muitas vias rodoviárias, mas chegou a um ponto que já se torna absurda a quantidade de "furados".
  • O dinheiro poderia ter sido aproveitado para apoiar as empresas regionais? Podia e devia, sim senhora!
A questão é que a sra. Merkel perdeu toda a razão ao generalizar os investimentos, ao falar de boca cheia e, sobretudo, ao falar de uma realidade que manifestamente não conhece.
Muitas obras foram essenciais ao desenvolvimento da Madeira, para que agora seja possível chegar facilmente a qualquer ponto da ilha. E se foram feitas com fundos europeus é porque a União Europeia as aprovou. Nessa altura ninguém se lembrou que era um exagero... Que pena...

Mais do que infeliz, a sra. Merkel foi (ela sim) exagerada. Antes de falar mal dos outros, olhe para a sua própria casa e resolva os seus problemas. O que é realmente revoltante é que não havia necessidade nenhuma destas declarações. Para manchar a imagem da Madeira já lá temos um, não precisamos de si.

Mas agradecemos desde já a sua ajuda para melhorar a situação. É de enaltecer a publicidade que fez ao falar dessa maneira sobre uma ilha que sobrevive do turismo. E os turistas alemães são só e apenas o principal mercado do turismo da Madeira. Espero que a beleza da ilha se sobreponha à opinião da senhora sabichona.

Sem fazer mais comentários, resta-me dizer-lhe que estamos todos profudamente agradecidos, sra. Merkel.